Os pobres pagam mais caro pelos remédios. É a cruel lógica do mercado

 

      Levantamento feito pelo jornal O Estado de S. Paulo junto às Secretarias Estaduais de Saúde revelou uma dura realidade: os Estados mais pobres pagam mais caro pelos mesmos medicamentos, uma diferença que, em muitos casos, chega a ser escandalosa.

A matéria, assinada pelo jornalista Ricardo Westin e publicada em dezembro de 2007, não deixa dúvidas sobre a relação que se estabelece entre o poder público e a indústria da saúde, derivada de uma cruel lógica do mercado: quem compra menos quantidade, paga mais. Assim, a atorvastina cálcica, que é indicada para o tratamento do colesterol, tem o preço de (um comprimido de 10 mg) de R$2,47 para São Paulo, R$3,05 para o Mato Grosso e R$5,49 para o Acre e o comprimido de ribavirina, utilizado para hepatite, custa para o governo do Acre o dobro do valor pago por São Paulo.

Na prática, não é muito difícil resolver o problema: basta o Ministério da Saúde fazer o que lhe compete fazer: assumir de vez a compra centralizada dos medicamentos e distribuí-lo depois para os Estados, rompendo com isso o cerco dos laboratórios. Essa situação, explica o jornalista do Estadão, já se verificou no caso do Interferon peguilado, uma droga utilizada contra a hepatite, com excelente resultado. O Governo Federal passou a adquirir o remédio e a distribuí-lo para todo o País e o preço desabou: a ampola que era comprada por 590 reais por São Paulo, era adquirida por 1700 reais pelo Acre e por valores intermediários por outros Estados. Após a intervenção do Governo, o preço praticado passou a ser de 570 reais para todo mundo.

Deixar que Estados mais pobres, e portanto mais vulneráveis, negociem com os grandes laboratórios é permitir esse descalabro. Os governos, que tanta concessão tem feito á indústria da saúde, precisam mobilizar-se para exigir também algumas contrapartidas. O Brasil é um dos maiores consumidores de medicamentos do mundo e o Governo é certamente o grande comprador, especialmente de determinados tipos de remédios. Logo, está na hora de mostrar os dentes e resistir às investidas da indústria da saúde.

É importante repetir o ditado: quando se poupa o lobo, coloca-se em risco a vida da ovelha.

 
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