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O terrível medo de ter medo

Wilson da Costa Bueno*

      Você não deve se lembrar, mas não faz muito tempo. Tudo aconteceu muito rapidamente. Romário treinava chutes a gol num treino do Flamengo (agora, ele faz seus golzinhos no Fluminense) e, num dado momento, levou a mão ao peito, demonstrando estar sentindo fortes dores. Ato contínuo, deitou-se no gramado e perdeu a consciência. Corre-corre tremendo. Afinal de contas, Romário é Romário (naquela época, era muito mais!). Ataque de coração?
      Nada disso. O artilheiro teve uma síndrome de pânico. Opa! Como diz o caboclo: Cuma é isso?
      A síndrome do pânico é caracterizada como uma doença que se inclui nas chamadas desordens da ansiedade e que, embora dê à impressão, sobretudo para a vítima, de que ela vai ter um "troço", não provoca maiores consequências.
      Em geral, a dor do pânico dura de 10 minutos a meia hora e é acompanhada de falta de ar, dor no peito, suor, tremor e palpitações (e, com tudo isto, o negócio não é feio?).
      Romário, por exemplo, sentiu estas coisas todas e chegou a pensar que era a sua vez. Muitas pessoas têm crises tão fortes que acabam desenvolvendo o que se chama de ansiedade antecipatória (isto é, sofrem antes da hora) e mesmo de agorafobia (um medo enorme de permanecer em lugares públicos). Tem gente que foge de supermercados, bancos etc, com receio de que estes lugares possam desencadear as crises.
      O gozado é que as pessoas não sentem medo de alguma coisa específica, mas sim, têm, na verdade, medo de ter medo. Em casos extremos, os doentes se isolam do mundo, permanecendo em casa, quase sempre requerendo a presença de um familiar ou amigo com medo de, de uma hora para outra, sofrer um ataque.

O que causa a síndrome do pânico?

      Sabe-se que as crises têm origem neuroquímica e que estão associadas a alterações que ocorrem numa parte do cérebro denominada "locusceruleus" e que medicamentos, drogas e mesmo tomar café em demasia podem desencadear os ataques. Há especialistas que identificam a doença com experiências traumáticas na infância, particularmente casos de separação. A criança se vê abandonada e o agravamento da sua insegurança leva-a a adquirir este medo enorme.
      O tratamento da síndrome do pânico é feito à base de medicamentos e pela psicoterapia. O acompanhamento por profissionais competentes e, evidentemente a colaboração do paciente, geralmente dão resultado e as pessoas conseguem, na maior parte dos casos, superar o problema.
      Sabe-se que as mulheres são mais vulneráveis à doença do que os homens e que o mal não é tão raro assim, embora não esteja por aí atacando todo mundo.
      Só recentemente a doença foi reconhecida, o que tem contribuído para eliminar antigo preconceito: as pessoas acometidas deste mal eram taxadas de loucas. Só quem tem, sabe o que é. Quem duvida, pergunte ao Romário. Não foi ontem, mas o baixinho não vai se esquecer desse dia nunca.

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*Wilson da Costa Bueno é jornalista, professor do programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da UMESP e de Jornalismo da ECA/USP, diretor da Comtexto Comunicação e Pesquisa.

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