Wilson da Costa Bueno*
Chega uma hora que não dá prá aguentar. A fome chega como quem não quer nada e, pimba!, lá estamos nós buscando algo para colocar goela abaixo. Um sanduíche, um pedaço de bolo (hummm...), um bife suculento e tudo mais que a imaginação permite. Depois, o arrependimento e o desejo ( e a necessidade) de perder uns quilinhos. Pra ajudar a voltar em forma, um santo remédio: os inibidores de apetite.
Calma, vamos com calma. Não é bem assim ou pelo menos devia ser de outra forma. Os inibidores de apetite, também conhecidos pelo belo (belo? ) nome de anorexígenos, não podem ser utilizados indiscriminadamente, como se fossem balas de chupar. Eles cumprem uma função importante, mas só podem ser receitados por médicos que, para sua prescrição, levam em conta uma série de fatores. No máximo, eles podem ser indicados como auxiliares no tratamento da obesidade, mesmo assim com inúmeras restrições.
Não se recomenda, por exemplo, o seu uso continuado por mais de três meses e é perigoso reunir num mesmo medicamento deste tipo várias substâncias anorexígenas. Logo, nada de imaginar que um coquetel deste jeito seria fabuloso para o seu caso.
Sabe por que os inibidores de apetite não devem ser consumidos em larga escala, por muito tempo e por qualquer um, seguindo o conselho de amigos ou de gordinhos e gordinhas desavisados?
Por que eles fazem muito mal
Os anorexígenos acarretam um monte de efeitos colaterais, dos quais os mais comuns são a elevação da pressão arterial e alterações ( que podem ser muito significativas) do sistema nervoso central. Isto quer dizer que, se você é um daqueles que vive tomando remedinho para perder o apetite, provavelmente está se envenenando sem saber.
Os inibidores de apetite, quando usados indiscriminadamente, deixam as pessoas nervosas, com um grau elevado de irritabilidade, ansiosas, depressivas e podem provocar tonteira, tremor, insônia, calafrios e urticária, para só citar alguns dos efeitos já comprovados pela Medicina. É pouco? Então, fique sabendo que uma pesquisa bastante séria realizada na França há alguns anos demonstrou que alguns destes medicamentos causam uma doença grave - a hipertensão pulmonar primitiva, bastante rara e caracterizada pelo aumento da pressão arterial e da resistência vascular pulmonar. Uma pesquisa mais recente, também realizada naquele país, confirmou o fato e chamou a atenção para o perigo dos anorexígenos: muitos pacientes morreram após a ingestão continuada destes medicamentos e alguns tiveram que se submeter a transplantes de pulmão.
Não dá prá brincar. Remédio é sempre assim: não pode ser tomado à toa e sem acompanhamento médico.
Se você se sente gordinho ou gordinha, consulte um especialista e opte sempre por uma dieta, pelos exercícios físicos controlados e até por uma terapia (se o negócio for bravo mesmo), antes de cair nos remédios.
Lembre-se de que, às vezes, a aparente solução pode ser um problema. Inibidores de apetite só em último caso. Cuidado, ao tentar reduzir seu apetite, você poderá estar reduzindo a sua própria vida. (WCB)
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*Wilson da Costa Bueno é jornalista, professor
do programa de Pós-Graduação em Comunicação
Social da UMESP e de Jornalismo da ECA/USP, diretor da Comtexto
Comunicação e Pesquisa.