Wilson da Costa Bueno*
Tem doença que não transmite recado. Devagarzinho como quem não quer nada, ela vai se instalando progressivamente até que um dia se manifesta abruptamente. Aí, como diz o ditado popular, Inês é morta. Este é o caso da periodontite ou da gengivite, doenças bastante comuns -estima-se que cerca de 90% dos brasileiros convivem com elas, em sua forma mais branda ou mais grave - e que são responsáveis, respectivamente, pela inflamação das gengivas e pela deterioração das estruturas ósseas que suportam os nossos dentes. Elas estão incluídas nas chamadas doenças periodontais, causadas pela formação de uma placa bacteriana ( o tal do tártaro, este inimigo terrível das nossas bocas) acumulada na gengiva (gengivite) ou no osso e nos ligamentos (periodontite) e que, em geral, derivam de uma escovação inadequada.
Na verdade, há outros fatores que concorrem para estas doenças, como a alimentação e mesmo a qualidade da saliva (neste último caso, o indíviduo não é diretamente culpado).
Muitas pessoas acabam percebendo a ação do tártaro porque suas gengivas se retraem e não é incomum o sangramento, observado com facilidade, muitas vezes, no ato da escovação. Mas a maioria nem se dá conta de que está convivendo com o problema e, quando acorda, o mal já está feito: o dente está mole, prestes a cair, já que o osso foi corroído pela doença. Neste momento, há pouco a se fazer porque é tarde demais.
É importante frisar que, embora comuns, estas doenças - a gengivite e a periodontite- podem ser evitadas e, para isso, é fundamental contar com a ajuda do dentista: poucos de nós sabemos escovar os dentes de maneira correta e, por isso, o comprometimento da gengiva e da estrutura óssea é coisa certa.
Felizmente, existe uma nova técnica para regeneração do osso que permite resolver um número grande de casos( mas veja bem, às vezes não há saída e o tratamento é lento e caro). Ela é conhecida como técnica de regeneração tecidual guiada ( nome complicado, não?) e consiste em introduzir uma membrana entre a gengiva e o osso de tal modo que, após algum tempo, cria-se um tecido novo que irá sustentar o dente. Esta membrana pode ser reabsorvível pelo organismo (feita à base de polímeros e colágenos que são degradados pelo organismo) ou não (em geral feita de teflon, um material biocompatível e que precisa ser retirado depois de algumas semanas).
Estima-se um período de seis meses para que o osso se regenere e o processo precisa ser acompanhado pelo dentista, geralmente utilizando-se de radiografias.
Se, no entanto, o dente já não pode mais ser salvo, pode-se recorrer ao para substituí-lo, mas aqui vale de novo a dica: o processo não é barato e é sempre melhor prevenir do que remediar.
O ideal é buscar orientação do dentista e seguir à risca suas recomendações.
O segredo, quase sempre, está em escovar de maneira correta e permanente para que os resíduos de alimentos não se acumulem, formando cáries ou tártaros. A disciplicência tem feito muitos desdentados. Cuide-se: não é só peixe que morre pela boca.
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*Wilson da Costa Bueno é jornalista, professor
do programa de Pós-Graduação em Comunicação
Social da UMESP e de Jornalismo da ECA/USP, diretor da Comtexto
Comunicação e Pesquisa.