Wilson da Costa Bueno*
Marcelo acaba de chegar da escola. Com os pés pegando fogo por causa do calor excessivo, não perde tempo. Senta na cama, diz um rápido "oi" para sua irmãzinha Bruna e tira logo o seu belo tênis importado. Aí vem o contraste: enquanto Marcelo demonstra uma sensação de alívio, Bruna franze a testa: "Marcelo, tenha dó. Vá prá lá com este chulé!".
É, meu amigo, o negócio é bravo mesmo. Tem gente que parece ter esmagado alguma coisa dentro do sapato e é duro mesmo de aguentar.
O chulé é um problema que aflige milhões de pessoas em todo o mundo (e obviamente os outros milhões que convivem com estas pessoas) e é causado pela decomposição do suor ou pela presença de fungos. Sabe-se que não é hereditário ( pelo menos, estamos livres do chulé do nosso querido papaizinho) e que atinge, indistintamente, homens e mulheres. Aí está um cheirinho verdadeiramente democrático.
Há situações tão dramáticas ( o odor é tão acentuado!) que as vítimas acabam acumulando um problema psicológico, já que se sentem rejeitadas pelos familiares e amigos. Há casos relatados de pessoas que precisaram de orientação de especialistas porque, em função do cheiro desagradável, passavam a rejeitar-se a si próprias.
Na prática, no entanto, há condições reais de prevenir e de dar um jeito no problema. A prevenção começa com o uso diário de um sabão ou uma solução anti-séptica que têm como objetivo evitar a proliferação de bactérias nos pés, ou mesmo o uso de cremes que contribuem para a redução do suor. Os especialistas recomendam também o uso de meias e advertem para a necessidade de secar bem os pés após o banho. O segredo é não deixar as bactérias, que decompõem o suor, proliferarem porque aí o cheiro vem com tudo.
Há certa controvérsia quanto ao uso dos talcos ( existem marcas aos montes nas farmácias, prometendo curas milagrosas para o chulé): enquanto alguns dermatologistas admitem a sua eficácia no controle das bactérias, outros alegam que eles atrapalham o funcionamento das glândulas sudoríparas e podem, inclusive, agravar o problema.
Outras recomendações devem, ainda, ser levadas em conta: deixar os sapatos em lugar bem arejado, preferir calçados abertos ( por isso é que os tênis em geral e os sapatos com solados grossos de borracha costumam ser contra-indicados para quem tem chulé) e, se possível, não usar o mesmo sapato durante vários dias seguidos ( você, que não gosta de tirar aquele tênis turbinado do pés, que se cuide).
O ideal é, se você convive com este cheiro e acha que ele incomoda ( olha, ele incomoda pelo menos os outros, pode acreditar), procure um dermatologista. Ele poderá indicar o tratamento adequado e ajudá-lo a enfrentar o problema.
Ficar sem fazer nada é que não pode, não é mesmo? Se esta situação pode ser revertida com alguma facilidade, o que você está esperando? Dê um trato no seu pezinho. Todos nós, inclusive a Bruna, seremos profundamente gratos.
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*Wilson da Costa Bueno é jornalista, professor
do programa de Pós-Graduação em Comunicação
Social da UMESP e de Jornalismo da ECA/USP, diretor da Comtexto
Comunicação e Pesquisa.