As propagandas de alimentos
e produtos infantis em nosso País estão, em
sua maioria, em situação irregular, não
cumprem a lei e, com isso, estão induzindo os papais
e mamães e, em conseqüência as crianças,
a riscos ou a atitudes inadequadas.
Esta é a conclusão
a que chegou a Anvisa – Agência Nacional de
Vigilância Sanitária após a realização
do primeiro monitoramento da Norma Brasileira para Comercialização
de Alimentos para Lactentes e Crianças de Primeira
Idade (NBCAL). Cerca de 2/3 (mais precisamente 64,58%) das
ações de marketing (foram 1310 analisadas)
de bicos, chupetas, leites e alimentos infantis estão
em desacordo com a lei. Dentre os casos mais contundentes,
destaca-se a propaganda de alimentos derivados de leite
de origem animal com irregularidades em quase 70% dos casos.
Uma falha importante nesse caso é a ausência
de frases de advertência, que são obrigatórias,
nos locais de venda como: O Ministério da Saúde
adverte: o aleitamento materno evita infecções
e alergias e é recomendado até os dois anos
de idade, ou mais”. A proposta desta inserção
obrigatória é lembrar os papais e mamães
da importância do aleitamento materno e desestimular
o uso precoce de leite em pó ou outros produtos que
não o substituem com eficácia.
Os rótulos de mamadeiras,
bicos, chupetas e protetores de mamilo também não
incluam instruções para o uso adequado. Os
rótulos de alimentos chegaram à porcentagem
absurda de 72% de desobediência à legislação
em vigor.
A íntegra da norma
(NBCAL) pode ser consultada no site da Anvisa e é
de conhecimento das empresas e agências de propaganda/comunicação,
o que torna qualquer desculpa sem sentido. Há mesmo
má fé no não cumprimento da legislação,
má fé que certamente é movida por interesses
comerciais (tentativa de iludir o consumidor, mesmo numa
área crítica como a da saúde).
A Anvisa tem feito também
o monitoramento de outros setores, como a propaganda de
medicamentos, e aqui também os abusos são
freqüentes, com total desobediência à
legislação e desrespeito ao consumidor.
Os fabricantes recorrentemente
faltosos contam, em muitos casos, com a cumplicidade de
agências de propaganda e de comunicação
que, sem qualquer postura ética, descumprem a legislação
para atender à ganância de empresas sem escrúpulos.
Ganham dinheiro com isso, muito dinheiro.
A mídia deveria cumprir
melhor o seu papel, dando ampla divulgação
para a ocorrência destas irregularidades, mas, pelo
contrário, tem abrigado artigos de entidades da área
e de advogados de grandes corporações (e também
executivos de agências de propaganda) que se voltam
contra qualquer tipo de controle ou pregam a auto-regulação,
que tem se mostrado completamente inócua. Querem
continuar burlando a legislação, atendendo
a interesses excusos e que se opõem à verdadeira
cidadania. São porta-vozes do lobby da indústria
da saúde ou advogam em causa própria. Laboratórios
e empresas de alimentos são grandes anunciantes e
agências e veículos não querem perder
esta receita, mesmo que seja à custa da saúde
dos cidadãos.
Os papais e mamães
devem estar atentos para estas irregularidades e rejeitar
toda tentativa de manipulação. Numa sociedade
responsável, apelos como “danoninho que vale
por um bifinho”, “tome um antes e outro depois”,
“o melhor alimento para seu bebê“ precisam
ser repudiados com veemência. Quanto à tentativa
de boicote da campanha de aleitamento materno, ela não
é nova. Algumas corporações multinacionais
que atuam nessa área há muito tempo já
foram flagradas em ações anti-éticas
buscando aumentar os seus lucros e se constituem em casos
emblemáticos de irresponsabilidade social e desrespeito
ao consumidor.
Seria interessante (com certeza,
a legislação protege os faltosos e por isso
eles se sentem estimulados a este comportamento) que as
empresas irresponsáveis tivessem o seu nome divulgado.
Elas não se preocupam com as multas, que são
irrisórias em nosso País, mas sentiriam na
pele e sobretudo na sua imagem/reputação,
se a sociedade soubesse quem são elas.
Mas você, internauta
esperto, pode imaginar o que quiser sobre as empresas (algumas
líderes, que investem muito em propaganda) que atuam
nessa área. A chance de acertar é de quase
70%. Pensando bem, não é pouco, certo?
Olho vivo nas empresas de
alimentos e na indústria farmacêutica. Em áreas
críticas como a saúde, infelizmente, os abusos
são numerosos. Num país justo e comprometido
efetivamente com a cidadania, estas irregularidades seriam
caso de polícia.
Já que o Governo tem
os nomes das empresas e as provas, o que mais falta para
punir exemplarmente esta gente? Por que o Governo não
dá maior autoridade para que a Anvisa possa terminar
o bom trabalho que já começou? Por que não
se pode saber quem são as empresas faltosas? Por
que não se divulga o nome das agências de propaganda
que subsidiam essas irregularidades? O que impede que se
dê nome aos bois?
Vivemos efetivamente num
país de faz-de-conta, onde se conhece o milagre mas
se ignora o santo (o que essas empresas certamente não
são!). Tudo faz parte do espetáculo. Só
que nesse caso os papais, as mamães e as crianças
não devem estar se divertindo muito.