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Uma
análise da cobertura da imprensa para os planos de saúde
(1996-2003)
André Caldas Cervinskis*
Resumo
Esse
artigo analisa a cobertura da imprensa pernambucana (Folha e Diario
de Pernambuco, Jornal do Commercio) para o tema planos de saúde
entre 1996 a 2003, procurando identificar as vozes do processo
jornalístico e que espaço e tratamento são dados por parte dos
jornais a cada um deles.
Palavras-chave:
saúde suplementar planos de saúde e imprensa
comunicação e saúde complementar comunicação e saúde.
A
interação entre a imprensa e o tema de saúde suplementar começou
timidamente, por conta da situação de repressão político-ideológica
da Era Militar pós-64 e cresceu com a redemocratização do país,
especialmente após a 8ª CNS e a Constituição de 1988. A promulgação
do Código de Defesa do Consumidor em 1992 e da Lei 9656, dos Planos
de Saúde, regulamentando o setor de saúde suplementar no país
após 1998, fizeram com que a imprensa nacional e se voltasse para
a questão dos direitos dos usuários de planos de saúde, numa perspectiva
de esclarecimento e de debate acerca das contradições e benefícios
das leis, bem como as contínuas mudanças pelo que passa o setor
nos anos 90 e começo do século XXI. Segundo alguns autores, como
Andreazzi (1991) e Bahia (1991), o seguro de saúde no Brasil tem
suas origens com a instalação das montadoras de automóveis no
ABC paulista, inaugurando um novo ciclo de industrialização associado
ao capital externo. Czapski (apud ANDREAZZI,1991, p.115) diz ter
sido provavelmente em 1956 o primeiro plano coletivo de saúde,
dando atendimento a 100 pessoas. O mesmo autor estabelece em 1954
o marco do setor, com um atendimento mediante contrato a funcionários
da Indústria Vilares e do Tribunal de Justiça de São Paulo no
Hospital e Maternidade Modelo.
No
total, o setor de saúde privado atende 1/4 da população brasileira,
cerca de 41 milhões de pessoas, tendo movimentado, no ano de 2000,
R$ 23 bilhões, com mais de um milhão de procedimentos médicos
realizados por dia, quantia que corresponde a todo investimento
público na área da saúde à época. Sozinha, a medicina de grupo
realizou, no ano de 2000 (ABRAMGE, 2003), 91 milhões de consultas
médicas, 1,8 milhão de internações hospitalares, 373 mil partos,
62,3 milhões de exames laboratoriais, 91 milhões de exames radiológicos,
e mais de 26 milhões de exames e serviços auxiliares de diagnóstico
e terapia, movimentando cerca de R$ 5,18 bilhões. O envolvimento
da imprensa pela a temática dos planos de saúde vem crescendo,
principalmente após a sua regulamentação na década de 90 do século
passado. O número de matérias vem aumentando consideravelmente
de volume. De somente 7 matérias em 1996, passou para 46 em 2003,
o que representou um aumento quantitativo de quase 7 vezes. Do
total de 75 matérias, 9,4% foram publicadas em 1996 e 62,1% em
2003. Embora o tema nem sempre "renda" notícias, ou
seja, não é um campo onde sempre ocorrem fatos importantes, como
na política, o interesse da imprensa pela saúde suplementar é
notável. O debate em torno do tema planos de saúde começou nas
décadas de 50/60, quando da implantação do sistema suplementar
no país através de convênios com grandes empresas para atender
seus funcionários A inserção da mídia nesse processo, porém, só
se deu mais profundamente nas décadas de 80 e 90, ao se acirrou
o movimento dos usuários do sistema de saúde, motivando a legislação
e regulação do setor que temos atualmente. Em progressão aritmética,
as matérias acompanham a história da regulamentação da saúde suplementar,
especialmente sua fase mais importante, a década de 90 do século
passado e os primeiros anos do atual. Em Pernambuco, de maneira
especial, a incidência das matérias sobre esse tema é grande.
Para
entendermos melhor esse processo de interação desses diferentes
atores que participam das matérias sobre planos de saúde, vale
a pena resgatar aqui o conceito de polifonia, inaugurado pelo
filósofo russo Mikhail Bakhtin e trabalhada mais tarde por Ribeiro,
em sua tese de mestrado. Nesse trabalho, a autora adaptou um pouco
o conceito de polifonia para analisar situações de comunicação,
o que nos interessa, pois nosso objeto são matérias de jornais.
Segundo
Ribeiro (1999), um enunciado está sempre interagindo com outros
enunciados. E esses outros enunciados com os quais ele interage
estão presentes nele na forma de vozes. Não existe, portanto,
um enunciado puro: qualquer discurso está sempre impregnado pelas
vozes de outros discursos com os quais ele dialoga. E é a multiplicidade
de vozes em interação (confronto) no interior de um texto que
Bakhtin chama de polifonia.
A
polifonia consiste, assim, numa conjuntura textual na qual diferentes
vozes podem ser ouvidas (como numa música) com força e ressonâncias
independentes. Isto equivale a dizer que o autor de um texto não
é o único responsável por todas as representações presentes nele,
que no seu discurso há, além da sua voz, muitas outras. Ou seja,
em qualquer situação textual, coexistem uma pluralidade de representações
que não se fundem na consciência do locutor e que podem ser percebidas
porque expressas em registros diferentes.
O
conceito de polifonia está intrinsecamente ligado ao de dialogismo.
A polifonia não aponta meramente para a heterogeneidade no texto,
para as representações presentes nele. Além de detectar uma multiplicidade
de vozes, também aponta para o ângulo no qual essas vozes se justapõem,
a forma como elas dialogam. Não basta apontar a heterogeneidade
de vozes, é necessário fazê-las dialogar. O que caracteriza a
polifonia é a "orquestração contrapontual de vozes"
no interior do texto (op. cit., 53).
É
em meio a essa "orquestração" que é gerada a significação.
Como já dissemos, ela não é dada, é construída. E é construída
exatamente aqui, na interação, no dialogismo.
As
relações dialógicas (...) são um fenômeno quase universal, que
penetra toda a linguagem humana e todas as relações e manifestações
da vida humana, em suma, tudo o que tem sentido e importância."
(BAKHTIN, 1981)
Percebemos,
com base nos conceitos de Bakhtin, então, que o texto é regido
e perpassado por vozes que formam um discurso mais geral sobre
determinado assunto.
Fundamentalmente,
nesse processo, haveria pelo menos três "vozes", dos
seguintes atores: o usuário, a justiça e os planos de saúde. Nenhuma
delas coloca-se no texto numa posição independente das demais.
Ora os planos de saúde provocam a voz dos usuários, através da
ADUSEPS, e essa, por sua vez, provoca a justiça ou Ministério
Público, fazendo valer a justiça e o direito; ora os usuários
provocam o Judiciário para que esse interprete a lei a seu favor,
ora provocam os planos de saúde. Uma voz não fala sem o estímulo
da outra. A imprensa, por sua vez, não demonstra interesse algum
em dar espaço a esses atores se esse embate na justiça entre usuários
e operadoras de saúde não fosse objeto de atenção por parte de
seu público consumidor, a classe média, que usufrui dos planos
de saúde. As duas primeiras vozes (usuários e justiça) aparecem
claramente no texto, a imprensa cede espaço para elas se manifestarem.
As
matérias geralmente se encontram nos cadernos de Economia (30
nos 6 anos, sendo 10 de primeira página do caderno) ou de Vida
Urbana, Cidades, Grande Recife (18). Certamente, a localização
dessas matérias no caderno de Economia demonstra o público a quem
os jornais dirigem suas reportagens: a classe média. Diferentemente
das camadas populares, a classe média pode pagar algum seguro
de saúde. Como a imprensa é regida por interesses capitalistas,
e o jornal impresso se destina, principalmente, a essa classe,
não é difícil conferirmos de que lado a imprensa tende a se colocar.
Poucas
matérias têm assinaturas de jornalistas. As matérias não assinadas
são uma estratégia de afirmar coisas polêmicas sem assumir autoria.
No caso específico dos planos de saúde, há um consenso de que
os usuários são sempre o lado mais fraco, penalizado com essa
situação, e como a justiça geralmente dá ganho de causa a eles,
não compromete os jornais o fato de posicionar-se dessa maneira.
Pelo contrário, soa como se a imprensa estivesse tomando a frente
em defender o usuário, ou mesmo permanecesse isenta, uma vez que
as forças econômicas falam mais alto e poderiam influenciar na
linha editorial dos periódicos.
Fundamentalmente,
no processo jornalístico por nós analisado, haveria pelo menos
três "vozes", dos seguintes atores: o usuário, a justiça
e os planos de saúde. Nenhuma delas coloca-se no texto numa posição
independente das demais. Ora os planos de saúde provocam a voz
dos usuários, através da ADUSEPS, e essa, por sua vez, provoca
a justiça ou Ministério Público, fazendo valer a justiça e o direito;
ora os usuários provocam o Judiciário para que esse interprete
a lei a seu favor, ora provocam os planos de saúde. Uma voz não
fala sem o estímulo da outra. A imprensa, por sua vez, não demonstra
interesse algum em dar espaço a esses atores se esse embate na
justiça entre usuários e operadoras de saúde não fosse objeto
de atenção por parte de seu público consumidor, a classe média,
que usufrui dos planos de saúde. As duas primeiras vozes (usuários
e justiça) aparecem claramente no texto, a imprensa cede espaço
para elas se manifestarem.
Ao
contrário das esparsas declarações das operadoras, a voz dos usuários
nas matérias é constante. A diretora executiva da ADUSEPS, Dra.
Renê Patriota, está sempre sendo procurada, ora para se posicionar
perante os impasses legais ou a favor dos usuários, ora dando
orientações para os consumidores sobre como agir em relação aos
planos.A imprensa procura criar vítimas: sempre ingênuos, inocentes,
nunca ou quase nunca cientes de seus direitos. Estão sempre sendo
desrespeitados. Os jornais se empenham em mostrar situações em
que eles estejam fragilizados, principalmente em casos graves
ou de risco de vida.
Doente
luta por cobertura de transplante (JC 29/10/00).
Paciente
morre por não ter assistência imediata (JC 24/04/97).
Usuário
pode ir à justiça (JC 26/08/03).
Dentro
desse discurso, estão as entidades e órgãos de defesa do consumidor,
como a ADUSEPS, aparecendo como protetores dos usuários. Esses
órgãos defendem que o usuário é o lado mais fraco que deve ser
protegido, colocando-se a seu favor contra as arbitrariedades
dos planos:
-ADUSEPS pede ao MP
para apurar morte de pacientes (JC 03/06/00);
-Associação ajuda usuários a cobrar
direitos na Justiça (JC 30/10/00);
-Idosos sofrem com nova legislação (DP
04/06/99) ;
A
justiça e o Ministério Público possuem o papel de fazer valer
a lei, afirmando, assim, que a lei está acima de todos os interesses
e se consolida pela promoção da justiça. Suas vozes são sempre
mediadas pelos jornais. Observamos que o Poder Judiciário e o
Ministério Público raras vezes se manifestam espontaneamente,
sendo sempre provocados pelos usuários, através de seus órgãos
de defesa, para agirem em favor da lei:
-Justiça obriga seguro
saúde a autorizar cirurgia em menina (JC 20/01/98).
-Juiz autoriza retorno de pacientes
a UTI privada (JC 15/05/97).
-Justiça derrota planos de saúde (JC
17/11/96).
-Paciente espera pela justiça (DP 07/11/97).
Interesses
de classe são constitutivos das vozes. Não é inocentemente que
a imprensa se esquece de que a lei é movida por interesses de
classes, e que tais classes pressionam e freqüentemente se revezam
no poder para garantir seus privilégios. No caso específico da
legislação dos planos de saúde, havia total omissão até que a
classe média sentiu-se constantemente desrespeitada pelas operadoras,
o que desencadeou a mobilização para promulgar leis que dessem
uma mínima condição de direito ao usuário, como a própria Constituição
de 1988, o Código de Defesa do Consumidor de 1990 e a Lei 9656
de 1998.
A
voz da justiça foi legitimada pela mobilização da classe usuária
dos planos, o que deu força a seu discurso e despertou a imprensa
para esse tema. O dialogismo configura-se nessas matérias como
espaço de interação dessas vozes. No caso das operadoras e dos
usuários em diálogo com a legislação, percebemos que ora eles
influenciam na confecção e interpretação das leis, ora esta é
que é influenciada por eles. Em matéria do JC de 20/01/98, com
a manchete Justiça obriga seguro saúde a autorizar cirurgia em
menina, é destacado o caso do engenheiro Jéferson do Rego Silva,
que conseguira uma liminar, ordenando que o seguro saúde Bradesco
autorizasse o Hospital Memorial São José a realizar uma cirurgia
de hérnia de disco na sua filha menor, Rafaela Maciel Silva, de
7 anos. A operadora alegara doença pré-existente e que não era
obrigada, portanto, de acordo com o contrato, a pagar as despesas
médicas. O advogado da ADUSEPS à época, Roberto Teixeira, explicou
que, para conseguir o parecer favorável da justiça, usou a tese
de "abuso de cláusula contratual", alegando que a doença
da menina não era pré-existente e que, há mais de um ano, fora
cumprido o tempo de carência da menina. Logicamente a decisão
judicial foi interpretada com base na lei dos planos de saúde.
Mas, se não houvesse a voz dos usuários a pedir respeito à legislação,
será que o resultado seria favorável? Certamente, a reação da
imprensa também seria diferente, uma vez que essa mesma lei poderia
ser interpretada a favor das operadoras, o que não iria despertar
interesse na imprensa.
A
voz dos planos de saúde aparece sempre que há arbitrariedades
em relação aos usuários. Mas eles são sempre identificados como
oportunistas, aproveitadores, esperando uma chance para negar
aos usuários seus direitos e acumular mais e mais lucros :
-Plano de saúde desrespeita
MP (JC 14/08/98) ;
-Plano de saúde exige cuidados (sem
data);
-Planos de saúde respondem a 200 processos
(DP 14/06/03);
-ANS investiga plano de saúde coletivo
(DP 21/06/03);
-3 planos de saúde são multados no Estado
(JC 14/04/03).
Seguindo
esse tratamento, as vítimas do usuário aparecem de forma bem claras
em algumas matérias:
-Idosos
sofrem com nova legislação (DP 04/07/99);
-Pacientes morrem por falta de leitos
(FP 14/04/03);
-Paciente morre por não ter assistência
imediata (JC 24/04/97)
Numa
matéria do DP de 04/07/99, explicitando o tom condenatório, lê-se:
Evite
armadilhas dos planos de saúde quem imagina que a nova
Lei 9656/98 dos planos e seguros de saúde acabou a quebra de braço
entre usuários e empresas está muito enganado. Pelo contrário.
Agora é que o consumidor deverá ficar atento às armadilhas contidas
nas novas regras. Houve avanços, mas foram poucos. O usuário conquistou
a redução das carências e o fim do limite para as internações.
Mas continua vulnerável aos critérios de reajustes das mensalidades.
Principalmente os idosos, que sofrem os maiores reajustes nas
mudanças de faixa etária e exclusão por parte de algumas empresas.
A
imprensa legitima a representação dos usuários pela ADUSEPS. Na
matéria Quando é melhor mudar de plano? (DP 28/12/030), por exemplo,
os consumidores de planos não foram diretamente ouvidos, mas a
direção da Associação, sim. Há uma preocupação da imprensa em
divulgar as ações da instituição, como também a ação em conjunto
com outras entidades acreditando que, com isso, direta ou indiretamente,
o usuário irá se beneficiar:
ADUSEPS
firmará parcerias com o PROCON e a Defensoria Pública (JC, 17/01/99);
cheque-caução é questionado OAB e ADUSEPS vão iniciar uma
ofensiva no Ministério Público contra a prática abusiva, que ferem
o Código de Defesa do Consumidor e o Código Civil (JC , 11/02/03).
Por
seu caráter combativo, a Associação está sempre impulsionando
os tribunais ou o próprio Ministério Público a zelar pela justiça
a favor dos menos favorecidos (nesse caso, os doentes/usuários).
Certamente isso ganhou a confiança da imprensa, que dá uma ênfase
às suas ações ou depoimentos. Nesse sentido, o papel da ADUSEPS
na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) dos Planos de Saúde
também é bastante acentuado:
CPI
recebe denúncias da ADUSEPS (FP, 09/07/03),
Usuários
apresentam queixas contra planos de saúde na CPI (JC, 09/07/03).
Em
tom de condenação, a manchete do DP de 06/07/03 diz: legislação
dos planos de saúde na berlinda, enxergando os planos de saúde
como réus num julgamento muitas vezes parcial por estar carregado
de emoções. A imprensa faz questão de enfatizar, em várias matérias,
que os planos são campeões de reclamações:
Planos
de saúde 93 processos contra seguradoras estão na Justiça
Comum (JC 17/08/00).
Pernambuco
reúne 133 processos no Estado, o principal motivo das reclamações
dos usuários de planos de saúde à Associação dos Usuários de Planos
de Saúde em Pernambuco (ADUSEPS) também é aumento indevido das
mensalidades. Em seguida vêm os casos de preexistência. (DP 24/02/02).
Planos
de saúde respondem a 200 processos negativa de cobertura
lidera ações judiciais de consumidores (DP 14/06/03).
Plano
de saúde desrespeita MP no mesmo dia em que entrou em vigor
a medida provisória do Governo Federal, proibindo reajuste nos
planos e seguros de saúde para maiores de 60 anos ou para contratos
individuais, por um período de 90 dias, uma usuária pernambucana
de 80 anos teve de corrigir o valor da prestação, para não ser
descredenciada. A negociação foi realizada, ontem pela manhã,
entre a gerente comercial da empresa e a filha da usuária, que
preferiu não ser identificada, nem divulgar o nome do plano de
saúde. (JC 14/08/98);
Aposentada
é transferida para Otávio de Freitas Família se sente,
mais uma vez, enganada pelo Plano Santa Clara (DP, 29/12/97).
Ao
longo de nossas análises, pudemos constatar como os três jornais
(Folha, Diário de Pernambuco e Jornal do Commercio) tratam de
maneira diferenciada os atores sociais envolvidos nessa questão.
Aos planos, não é dada quase nenhuma chance de mostrar suas opiniões
ou apresentar sua defesa, quando atacados. Aos usuários, ao contrário,
através de sua entidade de defesa, a ADUSEPS, é proporcionado
um papel de destaque. Surge para orientar os usuários nas suas
relações com os planos de saúde ou mesmo um ou outro aspecto legal.
A justiça também possui papel de destaque sempre que dá ganho
de causa aos usuários, nunca agindo por si própria, como é de
sua natureza, mas provocada pela ADUSEPS, na maioria dos casos.
As vozes desses atores, então, são regradas de acordo com esse
entendimento da imprensa: aos usuários - as vítimas - é dada voz
ativa; à justiça, não demonstrando voz ativa redentora
- o mérito de se colocar a favor dos usuários; e aos planos de
saúde - voz passiva - nunca dando espaço aos seus representantes
para manifestar sua opinião ou defesa.
A
posição da imprensa pernambucana diante da temática é clara: preferencialmente
ao lado dos usuários. Envolvida por motivações capitalistas, mas
pressionada pelos usuários, a imprensa freqüentemente toma o partido
destes, colocando-se numa posição parcial em relação às operadoras
de planos de saúde. Nas matérias, os planos de saúde estão sempre
errados, negando direitos aos usuários, só levando em consideração
seus lucros. Os usuários, por sua vez, sempre fragilizados nesse
embate, contam com uma Associação vigorosa e vigilante em sua
missão de defendê-los. Não resta, então, outra interpretação por
parte do leitor.
A
imprensa pernambucana tem agido de forma parcial, sensacionalista.
Os planos de saúde não têm espaço para apresentarem sua defesa
ou, quando o fazem, não são suficientemente fortes para refutar
os fatos indefensáveis apresentados pelos jornalistas. Não leva
informações de cunho importante para os leitores, como maiores
esclarecimentos da legislação e procedimentos para entrar na justiça.
Casos isolados são tratados com o mesmo destaque dos recorrentes.
Há um apelo claro para as emoções e ao mesmo tempo uma insidiosa
condenação aos planos e um destaque do papel Poder Judiciário
como promotor da justiça, provocada por entidades de defesa dos
usuários como a ADUSEPS.
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André Caldas Cervinskis
Especialista em comunicação e saúde (Fiocruz),
Pernambuco.
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