Volume 1
Número 1

20 de dezembro de 2004
 
 * Edição atual    

          Conversando com a ANVISA

Comunicação & Saúde entrevistou Carlos Dias Lopes, Assessor-Chefe do Comin - Assessoria em Comunicação Social e Institucional da ANVISA. O papel desempenhado pela Comunicação no dia-a-dia da Agência foi o foco principal da entrevista. Destacamos também a colaboração de Alexandre Périssé Nobili, consultor.

Comunicação & Saúde: Que papel a comunicação ocupa no processo de gestão da ANVISA? Qual é a estrutura da área? Seus principais objetivos e projetos? Quais os públicos prioritários e como a ANVISA se relaciona com eles? Ela dispõe de veiculos (jornais, newsletters, sala de imprensa etc etc) ou pretende criá-los?

ANVISA: A Anvisa é uma instituição cujo espectro de atuação é bem amplo. Como exemplo, podemos citar: alimentos, cosméticos, regulação econômica e regulamento de mercado de medicamentos, medicamentos, monitoramento de propaganda de produtos relacionados à saúde, PAF (portos, aeroportos e fronteiras), dentre outras. Nesse contexto, a Comunicação Institucional e Social da Anvisa procura dar suporte e atender às demandas de cada uma dessas áreas e da instituição como um todo, ao mesmo tempo que constrói um sistema de comunicação que busque montar uma rede de troca de informação entre as diversas áreas da Anvisa. Esses são nosso público interno.

O público externo compreende todo o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária, profissionais de saúde e a população como um todo. São diversos perfis de público e formas distintas de linguagem. Nossa preocupação é adequar a comunicação da Anvisa para que possamos cada vez mais estabelecer sistemas de informação eficazes para cada um desses públicos e estarmos sensíveis para as suas necessidades.

Para isso, estamos realizando pesquisas, reestruturando a comunicação da Anvisa e desenvolvendo diversos trabalhos que são novidades no setor. A reestruturação da Comunicação da Anvisa teve seu início em fevereiro de 2004, quando foi criado o Comin (Assessoria em Comunicação Social e Institucional da Anvisa). Até então, a comunicação da instituição estava muito atrelada à do Ministério da Saúde. Quando a Anvisa tornou-se mais

autônoma nessa área, percebeu-se que suas necessidades não eram plenamente atendidas. A busca por uma Comunicação mais plena tornou-se preeminente. Neste ano, estamos ainda trabalhando sem orçamento próprio (para comunicação institucional). Em 2005, trabalharemos sobre um planejamento mais integral, que incluirá meios para desenvolver a imagem institucional da agência.

O Comin baseia-se no conceito de Comunicação Integrada. Seus diversos setores trabalham em conjunto num sistema de cooperação. São eles: imprensa, publicidade, imagem, editora, design, multimídia e eventos - estes três últimos em conjunto com outras áreas da Anvisa (Gerência de Informação e Assessoria de Relações Institucionais). Cada setor conta com um coordenador e o Comin, como um todo, é coordenado pela coordenação-geral da comunicação que é ligada à assessoria de comunicação da Diretoria Colegiada.

Hoje, o Comin publica um boletim informativo mensal com tiragem de 60.000 exemplares, possui um site que gera um boletim eletrônico e serve de fonte importante de informação, inclusive com sala de imprensa. Há diversos projetos em andamento para expandir os veículos de comunicação da Anvisa: revistas, publicação de diversos livros e programas de rádio, entre outros.

Comunicação & Saúde: Qual a demanda básica dos jornalistas em relação à ANVISA e que tipo de informações/dados estão disponíveis para consulta e que podem ser relevantes para gerar novas pautas? Com estes dados e informações podem ser acessados?

ANVISA: O site, assim como a assessoria de imprensa da Anvisa, são importantes fontes de informação. A demanda básica dos jornalistas abrange assuntos relacionados a medicamentos: reações adversas, retirada do mercado, registro, formas de uso, reclamações e denúncias. Outros temas de igual relevância são: alimentos e cosméticos. Este último tem encontrado cada vez mais espaço na mídia por sua força comercial sem que, no entanto, tenhamos obtido da mídia o mesmo espaço para alertar a população quanto ao risco à saúde que tais produtos e/ou procedimentos possam causar. Também atraem bastante interesse assuntos ligados à Toxicologia (tabagismo,agrotóxicos), aspectos da regulação econômica do mercado de medicamentos, com a qual temos interface, o funcionamento regular dos estabelecimentos de saúde, entre outros.

Comunicação & Saúde: Como você vê a cobertura de saúde na mídia brasileira? Que desafios e limitações podem ser apontados?

ANVISA: Há cada vez menos jornalistas especializados na área. A compreensão do jogo de interesses que há na área da saúde é fundamental para que se possa fazer um trabalho com critério e responsabilidade. É preocupante quando revistas importantes de grande circulação começam a estampar em suas capas matérias sobre medicamentos sem a preocupação de informar ao leitor qual o estágio, no Brasil, de regularidade da droga anunciada. E é ainda mais alarmante notar que, mesmo que o jornalista autor tenhaobtido conosco a informação de que essa ou aquela droga está irregular, matérias elogiativas e claramente parciais são publicadas sobre o medicamento. Há até mesmo dificuldades em "conquistar" algum jornalista de grande imprensa para um assunto ou assuntos nossos, dado que eles têm tido pouco tempo para se dedicar a temas específicos, embora às vezes eles possam até interessar-se em aprofundar algo.

Comunicação & Saúde: A ANVISA percebe um crescimento da divulgação de terapias alternativas ou de pseudociências nesta área? Há algo que pode ser feito para sensibilizar a mídia no sentido das consequências desta divulgação?

ANVISA: Não podemos responder com firmeza sobre isso pois dentre o turbilhão de assuntos com os quais lidamos diariamente esse não está entre os 50 principais.

Comunicação & Saúde: No que diz respeito aos agrotóxicos e outros problemas relacionados com alimentos, qual tem sido a atuação da ANVISA e como você vê o papel da mídia no sentido de esclarecer a opinião pública sobre estas questões?

ANVISA: A fiscalização dos alimentos e a regulamentação dos agrotóxicos são tarefas divididas com outras esferas de governo, como os ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente. A Anvisa tem sido célere em restringir o uso de agrotóxicos ultrapassados, cujos fabricantes tentam utilizar o Brasil como solo fértil para espichar ganhos com estes produtos. Neste terreno, pode-se dizer que os técnicos da Anvisa têm estado solitários nas trincheiras em muitas batalhas. A área de alimentos, ao menos a de industrializados, da qual cuidamos mais de perto, apresenta alto grau de desenvolvimento e não representa maiores problemas para o consumidor. Mas também estamos de olho e às vezes temos de interditar algum amendoim com aflatoxina no Centro-oeste ou uma produção de palmito fora das normas no Norte. A mídia, nestes casos, atua da mesma forma que em outros setores. Só enxerga os problemas no momento da crise.

Comunicação & Saúde: Há algo que se possa fazer relativamente à ação das indústrias tabagista e de bebidas no que diz respeito à comunicação? Há casos de infração à legislação envolvendo estes dois segmentos? Como a ANVISA e a mídia tem se portado nestes casos?

ANVISA: A área de controle de propaganda de tabagismo trabalha plugada 24 horas, e não podemos dizer que têm sido constatados problemas frequentes de infração à legislação. De forma geral, os fabricantes estão respeitando as regras. De vez em quando tentam alguma burla, em geral nos sites, mas logo que são advertidos voltam atrás. A mídia, em geral, interessa-se por informações sobre multas a esta ou aquela grande companhia, mas sem detalhar muito nossas ações ou construir grandes matérias a respeito.

Comunicação & Saúde: A ANVISA promove ou pensa em promover cursos voltados para comunicadores ou jornalistas em particular visando sensibilizá-las para temas vinculados à sua área de atuação? Como pode ser incrementado este relacionamento com a mídia?

ANVISA: Sim, já pensamos em fazê-lo, mas temos dúvida quanto ao interesse e mesmo tempo disponível de nossos colegas para participar de um evento assim. De qualquer forma, pensamos que este pode ser um bom jeito de incrementar a relação com os colegas que tangenciam, no dia-a-dia, a área de Saúde em seus veículos.

 

 
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