
Conversando
com a ANVISA
Comunicação &
Saúde entrevistou Carlos Dias Lopes, Assessor-Chefe do
Comin - Assessoria em Comunicação Social e Institucional
da ANVISA. O papel desempenhado pela Comunicação
no dia-a-dia da Agência foi o foco principal da entrevista.
Destacamos também a colaboração de Alexandre
Périssé Nobili, consultor.
Comunicação &
Saúde: Que papel a comunicação ocupa
no processo de gestão da ANVISA? Qual é a estrutura
da área? Seus principais objetivos e projetos? Quais os
públicos prioritários e como a ANVISA se relaciona
com eles? Ela dispõe de veiculos (jornais, newsletters,
sala de imprensa etc etc) ou pretende criá-los?
ANVISA: A Anvisa é
uma instituição cujo espectro de atuação
é bem amplo. Como exemplo, podemos citar: alimentos, cosméticos,
regulação econômica e regulamento de mercado
de medicamentos, medicamentos, monitoramento de propaganda de
produtos relacionados à saúde, PAF (portos, aeroportos
e fronteiras), dentre outras. Nesse contexto, a Comunicação
Institucional e Social da Anvisa procura dar suporte e atender
às demandas de cada uma dessas áreas e da instituição
como um todo, ao mesmo tempo que constrói um sistema de
comunicação que busque montar uma rede de troca
de informação entre as diversas áreas da
Anvisa. Esses são nosso público interno.
O público externo compreende
todo o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária,
profissionais de saúde e a população como
um todo. São diversos perfis de público e formas
distintas de linguagem. Nossa preocupação é
adequar a comunicação da Anvisa para que possamos
cada vez mais estabelecer sistemas de informação
eficazes para cada um desses públicos e estarmos sensíveis
para as suas necessidades.
Para isso, estamos realizando
pesquisas, reestruturando a comunicação da Anvisa
e desenvolvendo diversos trabalhos que são novidades no
setor. A reestruturação da Comunicação
da Anvisa teve seu início em fevereiro de 2004, quando
foi criado o Comin (Assessoria em Comunicação Social
e Institucional da Anvisa). Até então, a comunicação
da instituição estava muito atrelada à do
Ministério da Saúde. Quando a Anvisa tornou-se mais
autônoma nessa área,
percebeu-se que suas necessidades não eram plenamente atendidas.
A busca por uma Comunicação mais plena tornou-se
preeminente. Neste ano, estamos ainda trabalhando sem orçamento
próprio (para comunicação institucional).
Em 2005, trabalharemos sobre um planejamento mais integral, que
incluirá meios para desenvolver a imagem institucional
da agência.
O Comin baseia-se no conceito
de Comunicação Integrada. Seus diversos setores
trabalham em conjunto num sistema de cooperação.
São eles: imprensa, publicidade, imagem, editora, design,
multimídia e eventos - estes três últimos
em conjunto com outras áreas da Anvisa (Gerência
de Informação e Assessoria de Relações
Institucionais). Cada setor conta com um coordenador e o Comin,
como um todo, é coordenado pela coordenação-geral
da comunicação que é ligada à assessoria
de comunicação da Diretoria Colegiada.
Hoje, o Comin publica um boletim
informativo mensal com tiragem de 60.000 exemplares, possui um
site que gera um boletim eletrônico e serve de fonte importante
de informação, inclusive com sala de imprensa. Há
diversos projetos em andamento para expandir os veículos
de comunicação da Anvisa: revistas, publicação
de diversos livros e programas de rádio, entre outros.
Comunicação &
Saúde: Qual a demanda básica dos jornalistas
em relação à ANVISA e que tipo de informações/dados
estão disponíveis para consulta e que podem ser
relevantes para gerar novas pautas? Com estes dados e informações
podem ser acessados?
ANVISA: O site, assim como
a assessoria de imprensa da Anvisa, são importantes fontes
de informação. A demanda básica dos jornalistas
abrange assuntos relacionados a medicamentos: reações
adversas, retirada do mercado, registro, formas de uso, reclamações
e denúncias. Outros temas de igual relevância são:
alimentos e cosméticos. Este último tem encontrado
cada vez mais espaço na mídia por sua força
comercial sem que, no entanto, tenhamos obtido da mídia
o mesmo espaço para alertar a população quanto
ao risco à saúde que tais produtos e/ou procedimentos
possam causar. Também atraem bastante interesse assuntos
ligados à Toxicologia (tabagismo,agrotóxicos), aspectos
da regulação econômica do mercado de medicamentos,
com a qual temos interface, o funcionamento regular dos estabelecimentos
de saúde, entre outros.
Comunicação &
Saúde: Como você vê a cobertura de saúde
na mídia brasileira? Que desafios e limitações
podem ser apontados?
ANVISA: Há cada vez
menos jornalistas especializados na área. A compreensão
do jogo de interesses que há na área da saúde
é fundamental para que se possa fazer um trabalho com critério
e responsabilidade. É preocupante quando revistas importantes
de grande circulação começam a estampar em
suas capas matérias sobre medicamentos sem a preocupação
de informar ao leitor qual o estágio, no Brasil, de regularidade
da droga anunciada. E é ainda mais alarmante notar que,
mesmo que o jornalista autor tenhaobtido conosco a informação
de que essa ou aquela droga está irregular, matérias
elogiativas e claramente parciais são publicadas sobre
o medicamento. Há até mesmo dificuldades em "conquistar"
algum jornalista de grande imprensa para um assunto ou assuntos
nossos, dado que eles têm tido pouco tempo para se dedicar
a temas específicos, embora às vezes eles possam
até interessar-se em aprofundar algo.
Comunicação &
Saúde: A ANVISA percebe um crescimento da divulgação
de terapias alternativas ou de pseudociências nesta área?
Há algo que pode ser feito para sensibilizar a mídia
no sentido das consequências desta divulgação?
ANVISA: Não podemos
responder com firmeza sobre isso pois dentre o turbilhão
de assuntos com os quais lidamos diariamente esse não está
entre os 50 principais.
Comunicação &
Saúde: No que diz respeito aos agrotóxicos e
outros problemas relacionados com alimentos, qual tem sido a atuação
da ANVISA e como você vê o papel da mídia no
sentido de esclarecer a opinião pública sobre estas
questões?
ANVISA: A fiscalização
dos alimentos e a regulamentação dos agrotóxicos
são tarefas divididas com outras esferas de governo, como
os ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente. A Anvisa
tem sido célere em restringir o uso de agrotóxicos
ultrapassados, cujos fabricantes tentam utilizar o Brasil como
solo fértil para espichar ganhos com estes produtos. Neste
terreno, pode-se dizer que os técnicos da Anvisa têm
estado solitários nas trincheiras em muitas batalhas. A
área de alimentos, ao menos a de industrializados, da qual
cuidamos mais de perto, apresenta alto grau de desenvolvimento
e não representa maiores problemas para o consumidor. Mas
também estamos de olho e às vezes temos de interditar
algum amendoim com aflatoxina no Centro-oeste ou uma produção
de palmito fora das normas no Norte. A mídia, nestes casos,
atua da mesma forma que em outros setores. Só enxerga os
problemas no momento da crise.
Comunicação &
Saúde: Há algo que se possa fazer relativamente
à ação das indústrias tabagista e
de bebidas no que diz respeito à comunicação?
Há casos de infração à legislação
envolvendo estes dois segmentos? Como a ANVISA e a mídia
tem se portado nestes casos?
ANVISA: A área de
controle de propaganda de tabagismo trabalha plugada 24 horas,
e não podemos dizer que têm sido constatados problemas
frequentes de infração à legislação.
De forma geral, os fabricantes estão respeitando as regras.
De vez em quando tentam alguma burla, em geral nos sites, mas
logo que são advertidos voltam atrás. A mídia,
em geral, interessa-se por informações sobre multas
a esta ou aquela grande companhia, mas sem detalhar muito nossas
ações ou construir grandes matérias a respeito.
Comunicação &
Saúde: A ANVISA promove ou pensa em promover cursos
voltados para comunicadores ou jornalistas em particular visando
sensibilizá-las para temas vinculados à sua área
de atuação? Como pode ser incrementado este relacionamento
com a mídia?
ANVISA:
Sim, já pensamos em fazê-lo, mas temos dúvida
quanto ao interesse e mesmo tempo disponível de nossos
colegas para participar de um evento assim. De qualquer forma,
pensamos que este pode ser um bom jeito de incrementar a relação
com os colegas que tangenciam, no dia-a-dia, a área
de Saúde em seus veículos.
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