Volume 1
Número 1

20 de dezembro de 2004
 
 * Edição atual    

          Com o país ou com a indústria tabagista?

          O Congresso, em particular o Senado, continua brecando a ratificação da Convenção Quadro da Organização Mundial da Saúde, que prevê o controle do tabaco, assinada pelo Brasil em 2003. Há urgência nesta aprovação porque, caso ela não aconteça, o Brasil perderá , segundo especialistas, o direito de voto no Conselho da OMS que implementará a convenção.
          O debate é intenso, sobretudo em função do lobby dos fumicultores (leia-se mais explicitamente da indústria tabagista) que alegam estar condenados a médio prazo, se a convenção for aprovada.
          O governo, como é de costume, não tem uma posição clara, mesmo porque as divergências internas são óbvias: o ministério da Saúde está comprometido com o controle, mas o ministério da Agricultura, como tem ocorrido na questão dos transgênicos, é pela liberação do cultivo, ainda que o número de mortos e o prejuízo ao sistema de saúde sejam enormes.
          É preciso observar que há questões sociais e econômicas em jogo porque a indústria do fumo emprega um número expressivo de famílias (estima-se mais de 100 mil), exporta significativamente e a indústria tabagista é responsável por cerca de 5% dos impostos arrecadados em nosso País.
          Logo, nada pode ser feito , nesse caso, de maneira açodada, mas a Convenção Quadro, diferentemente do que pregam os fumicultores, certamente manipulados pela indústria tabagista que os subsidia com informações e argumentos, não estipula o fim da cultura do fumo a curto prazo.
          Alguns especialistas admitem que, para se controlar os malefícios do cigarro, uma droga que mata, conforme testemunham a Souza Cruz e a Philip Morris, podem ser tomadas, de imediato, algumas medidas, como o aumento expressivo do preço do cigarro (um dos mais baratos do mundo) e o controle do contrabando (que corre solto aos olhos da fiscalização).
          Os Governos estaduais poderiam também, a exemplo do que acontece nos EUA, exigir da indústria tabagista uma reparação pelos prejuízos ao sistema de saúde. Lá, além de um acordo superior a 20 bilhões de dólares já firmado com os governos estaduais, a indústria está ameaçada de um novo processo que supera os 50 bilhões de dólares, movido pelo Governo americano. Não se pode admitir que ela obtenha lucros fantásticos , à custa do trabalho das famílias brasileiras e da saúde de boa parte da população.
          A indústria tabagista, de maneira cínica, continua se apoiando no conceito frouxo de responsabilidade social (frequenta com desenvoltura o Instituto Ethos e suas newsletters) para alardear seu compromisso social, quando, na verdade, mascara sua ação perniciosa e empurra para a sociedade um prejuízo incalculável.
          O fato de a aprovação da Convenção Quadro não ter ocorrido ainda - o que é lamentável , sob o ponto de vista da saúde da população, mas explicável pela atuação ambígua do congresso brasileiro, pode ter pelo menos essa vantagem: permitir um debate maior sobre os malefícios do cigarro e a ação nociva da indústria tabagista.
          A proposta mais razoável é ficar ao lado dos fumicultores, analisando-se formas de promover uma migração para outras culturas ou uma compensação para possíveis perdas, e penalizar, brutalmente, a indústria tabagista, esta sim contrária aos interesses do país e da humanidade. Talvez queiramos demais, exigindo coerência e vontade política de governos e parlamentares que, ao longo do tempo, têm se mostrado omissos, senão cúmplices dos grandes interesses, mas vale a pena insistir e resistir. A indústria tabagista é pária da sociedade e merece ser expurgada. Se não for de maneira rápida, pelo menos lentamente, como ela costuma fazer com aqueles que utilizam os seus produtos.

          Na floresta, a cura para a malária

         Pode parecer paradoxal, mas a floresta que costuma ser o ambiente propício para a propagação da malária pode abrigar também recursos para a sua cura. Esta é a expectativa dos pesquisadores Lin Chau Ming e Ari Hidalgo, respectivamente da UNESP, de Botucatu, e da Universidade Federal do Amazonas, que já catalogaram 126 plantas utilizadas por moradores da calha do rio Solimões no tratamento da malária. Mais de uma centena delas, nos primeiros testes realizados no INPA - Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, "apresentaram algum efeito contra o Artemia franciscana, um organismo usado para testes biológicos preliminares para o estudo da malária", explica Lin Chau Ming, em matéria publicada pelo Jornal da UNESP, de novembro de 2004 e fonte desta notícia..
         Algumas plantas chegaram a matar 100% das larvas, como os extratos de sacaca (Croton Cajucara), de camapu (Physalis angulata) e de caapeba (Potomorphe peltata) e outras, como o cipó de saracura-mira, conhecido como cerveja-de-índio, mostraram-se potencialmente eficazes.
         A pesquisa continua com novas expedições, agora no vale do Rio Madeira e no Estado de Rondônia. Ao mesmo tempo, as plantas já identificadas deverão ser objeto de testes mais acurados nos laboratórios da Fiocruz, no Rio de Janeiro.

          A pobreza, no Brasil e no mundo

         Um bilhão de crianças vive hoje na pobreza no mundo e milhões ficam órfãs todos os anos por causa da Aids. O relatório Situação Mundial da Infância , lançado em dezembro de 2004 pelo Unicef, traz um retrato dramático e inclui o Brasil entre os mais penalizados, ainda que a situação tenha melhorado um pouco nos últimos anos.
         A taxa de mortalidade infantil brasileira caiu de 36 por mil nascidos vivos, no levantamento anterior, para 35 mil no agora divulgado, mas está longe, por exemplo, dos 9 por mil do Chile, os 12 por mil do Uruguai e dos 17 por mil da Argentina.. Ainda há (dados de 2000-2002), 15,6 milhões de brasileiros passando fome, embora se deva reconhecer que o país tenha tido um dos melhores índices de redução nos últimos anos.
         No ranking divulgado pelo Unicef, o Brasil ocupa hoje o 90º lugar, ao lado da República Dominicana, muito atrás de Cuba, Chile, Uruguai, Argentina, Venezuela, Colômbia etc, o que, considerada a pujança de sua economia, comparativamente às demais, não deixa de ser preocupante. Pior, apesar dos nossos progressos amplamente saudados , a nossa posição no ranking tem piorado, o que significa que o nosso esforço deve ser ainda maior

 

 
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