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Em
que medida a comunicação afeta a percepção
da qualidade nos serviços de saúde ?
Nelson Nogueir*
Resumo
Este estudo terá por objetivo conhecer, dentro do fenômeno da
comunicação interpessoal, as modalidades de interações
sociais constituídas através dela à formação das exigências, expectativas
e percepções desses atores sociais, além do entendimento de como
se dá a relação entre paciente e atendente. Para isso, estudaremos
os principais conceitos de serviços, qualidade e
os fundamentos teóricos do modelo conceitual formulado por Parasuraman,
Zeithaml & Berry e seus posteriores refinamentos ,
que resultaram na escala Servqual, cuja concepção determina
que a qualidade dos serviços de qualquer natureza
detectada por uma clientela, resulta do hiato entre as expectativas
iniciais e a performance percebida do serviço.
Palavras
chave: comunicação interpessoal; qualidade, serviços, percepção
Abstract
This study presents, within the interpersonal communication phenomenon,
social interactions modalities realized through the formation
of demands, expectation and perception in the relation patient-server.
For doing so, we used the theoretical foundations of the concept
model formulated by Parasuraman, Zeithaml and Berry and
their posterior refinements, which resulted in the Servqual scale,
whose conception determines the quality of services of
any kind detected by a clientele, results in a gap between the
initial expectations and the realized performance of the service
Palavras
chave: interpersonal communication; quality; services;perception
A
Comunicação com o paciente
Para
estudar os fenômenos, relacionados à comunicação com o paciente
de uma maternidade e focá-los neste trabalho, fomos buscar também
suporte na literatura que aborda aspectos médico-hospitalares
que tratam dos conceitos envolvendo as relações de atendimento
paciente versus atendente. Neles, um dos aspectos mais
importantes é o da comunicação. Muitas vezes, o profissional da
saúde tem a intenção de estabelecer um bom contato, mas fatores
comunicacionais tendem a afastá-lo e podem mesmo ocasionar erros
profissionais.
Atualmente,
a obrigatoriedade de informar detalhadamente aos pacientes sobre
o estado, tanto da parturiente, quanto ao seu filho recém-nascido,
com os porquês dos tratamentos e prescrições permitindo
que as mães decidam, com mais embasamento, sobre alguns itens
que desejam seguir já é um grande avanço no âmbito comunicacional.
Invariavelmente, porém, esse tipo de comunicação se faz de uma
forma unidirecional, seguindo um modelo paternalista.
O
modelo bidirecional, mais eficaz no entendimento de Caprara &
Franco (1999), exige mudanças de atitude do profissional, no intuito
de estabelecer uma relação empática e participativa que ofereça
ao paciente a possibilidade de decidir na escolha de alguns atributos
presentes no atendimento.
O
primeiro contato do paciente com o profissional ocorre, na maioria
dos casos, quando aquele está sob determinada tensão ou crise;
é provável, por conseguinte, que suas ansiedades se intensifiquem
e pareça estar mais perturbado do que em outros momentos.
Menzies
(1970) nos lembra que se o profissional atendente pode conter
o excesso de ansiedade que o paciente não consegue enfrentar nesse
momento, isso poderá proporcionará alívio e dará oportunidade
a que surjam os aspectos mais maduros do paciente e a que este
recobre a capacidade (diferente de cada indivíduo) de compreender,
elaborar e finalmente integrar a situação dolorosa.
Todas
as atitudes do profissional repercutem sobre o paciente
e terão significado terapêutico ou antiterapêutico segundo
as vivências que despertarão nele e no profissional. Perestrello
(1982) nos garante que a psicoterapia implícita que existe no
relacionamento profissional-cliente é constituída das atitudes
do profissional no seu relacionamento com o este último (o paciente),
dirigidas a um fim terapêutico, qualquer que seja a natureza das
medidas de ordem técnica. Este papel psicoterapêutico consiste,
entre outras coisas, em evitar transmitir uma sobrecarga de ansiedade
através de atitudes, gestos, expressões fisionômicas e palavras.
Segundo
Silva (1996), a comunicação é adequada quando se consegue usá-la
para diminuir conflitos e desentendimentos, além de atingir objetivos
definidos, a fim de solucionar problemas detectados na interação
com o indivíduo. A comunicação, portanto, deve ser empregada de
forma correta para que a ansiedade (expectativa moderada) presente
no período da gestação seja exteriorizada de forma a não aumentar
sua intensidade, o que poderá acarretar sérios problemas, tanto
para o feto como para a mãe.
Usando
a comunicação adequadamente, o profissional pode estimular mudanças
de atitude e comportamento no indivíduo. Isso porque o atendimento
das necessidades humanas básicas desse indivíduo depende, quase
sempre, do tipo de comunicação que se estabelecerá entre ele e
o profissional da saúde. Outro ponto fundamental é o uso consciente
que o profissional deve fazer de sua capacidade de comunicação
com o indivíduo a que atende, o que facilitará, por certo, o alcance
dos objetivos da assistência.
Instrumento
para coleta de dados
Para
medição das expectativas e percepções relativas aos serviços prestados
pela maternidade através de seus atendentes, fui utilizado a escala
Servqual originalmente pensada por Parasuraman; Zeithaml
& Berry (1988) que implicaram em algumas alterações. Tais
modificações foram estabelecidas tendo como matéria prima, os
trabalhos realizados por URDAN (1995) e a própria voz do paciente,
que utilizamos como redirecionador do instrumento original.
Dessa
forma, as cinco dimensões originais da escala Servqual
(tangível, confiabilidade, prontidão, garantia
e empatia) sofreram adaptações nas questões correspondentes
de cada dimensão, oriundas da análise qualitativa junto aos pacientes,
procurando-se adequar às especificidades da pesquisa. As alterações
relacionaram-se aos pontos discutidos a seguir:
O
levantamento qualitativo realizado através das entrevistas com
uma amostra de 12 pacientes utilizou questões semi-estruturadas
e complementadas, formuladas com abordagens de caráter aberto,
permitiram que as parturientes colocassem os atributos mais importantes
de um serviço de atendimento ao parto e todos os seus periféricos.
Dentre esses estão incluídos itens como refeições alimentos
e bebidas, copeiros, nutricionistas, recepção front
office, arrumação de quarto camareiras, enfermeiras,
sala de parto, médicos, funcionários administrativos. Enfim, os
meios, equipamentos e recursos humanos que envolveram todas as
etapas do processo de atendimento dado pelo hospital. A partir
daí, utilizando-nos dos atributos valorizados pelos pacientes
e com base também nos quesitos originais da escala Servqual,
obtivemos 22 itens para medição da percepção do serviço hospitalar
prestado. Mesmo com as alterações, procuramos manter a maior proximidade
possível com a estrutura da escala Servqual original. Segue
abaixo o modelo de questionário adotado:
1.
O hospital XYZ tem equipamentos de aparência moderna.
2.
As instalações físicas (quarto, recepção, berçário, sala de parto,
sala de espera) são visualmente bonitas e agradáveis.
3.
A equipe (enfermeiros, médicos, camareiras, copeiros e funcionários
administrativos) do hospital XYZ tem boa apresentação.
4.
As roupas de cama e banho são bonitas e limpas.
5.
A limpeza, a higiene do quarto e do banheiro são impecáveis.
6.
O hospital XYZ ofereceu refeições adequadas e servidas na temperatura
certa.
7.
O quarto proporcionou tranqüilidade e silêncio.
8.
Quando o hospital XYZ prometeu fazer alguma coisa até um certo
horário/data e cumpriu sem atrasos nem imprevistos.
9.
O hospital XYZ executou os serviços e procedimentos dirigidos
a Sra. corretamente logo na primeira vez.
10.
O hospital XYZ se esforçou para manter todas informações sobre
a Sra. sempre corretas e livres de erros.
11.
No hospital XYZ, a equipe (enfermeiros, médicos, camareiras, copeiros
e funcionários administrativos) atendeu sem demora aos seus pedidos
e necessidades.
12.
Quando a Sra. teve um problema e precisou auxílio, o hospital
XYZ demonstrou interesse sincero em resolvê-lo.
13.
A equipe (enfermeiros, médicos, camareiras, copeiros e funcionários
administrativos) do hospital XYZ esteve sempre disposta a ajudá-la.
14.
O hospital XYZ fez com honestidade o que foi melhor para a Sra.ª.
15.
A Sra. se sentiu segura quando utilizou os serviços do hospital
XYZ.
16.
A equipe (enfermeiros, médicos, camareiras, copeiros e funcionários
administrativos) tratou a Sra. com cortesia e simpatia.
17.
O comportamento da equipe (enfermeiro, médicos, camareiras, copeiros
e funcionários administrativos) inspirou confiança para a Sra.
18.
No hospital XYZ, a equipe (enfermeiros, médicos, camareiras, copeiros
e funcionários administrativos) apresentou conhecimentos e habilidades
necessários para fazerem o melhor para a Sra. em cada situação.
19.
O hospital XYZ deu a Sra. atenção especial, individualizada, buscando
conhecer suas necessidades específicas.
20.
O hospital XYZ tem horários cômodos e adequados (de refeições,
visitas, limpeza).
21.
A equipe do hospital XYZ esclareceu previamente a Sra. quando
e como os serviços e procedimentos serão realizados.
22.
É fácil estacionar no hospital XYZ.
Para
as respostas foi utilizada uma escala intervalar de cinco pontos,
todos eles numerados e legendados. A numeração variava de um a
cinco e as legendas são as seguintes:
MPE
- muito pior que o esperado (1) PE - pior que o esperado
(2)
DE
- dentro do esperado (3) ME - melhor que o esperado (4)
MME
- muito melhor que o esperado (5)
Pesquisa
junto às mães
A
amostra deste estudo constituiu-se de 127 casos, aplicados em
uma organização participante. Quanto à escolaridade dos seus integrantes
46,5% possuem ensino médio completo; 49,6% estão na faixa etária
de 20 a 29; 55,9% das mães estavam ganhando o segundo filho; e
42% vieram à maternidade XYZ por influência do próprio médico
que acompanhou o pré-natal.
Tivemos
13% das futuras mães visitaram a maternidade, conversaram com
os funcionários e decidiram em escolher o hospital. Uma outra
variável importante que aparece neste item é que 55,9% das pacientes
já tiveram a experiência dos serviços de maternidade no seu primeiro
filho, a maioria em outro local. As parturientes informaram ainda
ter identificado na maternidade XYZ um modelo de excelência e
que teriam outros filhos no mesmo local. Uma melhor caracterização
da amostra pode ser visualizada na tabela abaixo.
Caracterização
da amostra
Escolaridade |
Frequência |
Porcentagem |
Ensino fundamental |
02 |
1,6 |
Ensino médio incompleto |
10 |
7,9 |
Ensino médio completo |
59 |
46,5 |
Ensino superior incompleto |
05 |
3,9 |
Ensino superior completo |
51 |
40,2 |
Faixa Etária |
Frequência |
Porcentagem |
Menos que 20 anos |
01 |
0,8 |
20 a 29 anos |
63 |
49,6 |
30 a 39 anos |
60 |
47,2 |
40 a 49 anos |
03 |
2,4 |
Número de filhos |
Frequência |
Porcentagem |
Primeiro filho |
25 |
19,7 |
Segundo filho |
71 |
55,9 |
Terceiro filho |
28 |
22,0 |
Quarto filho |
03 |
2,4 |
Indicação para esta maternidade |
Frequência |
Porcentagem |
Médico |
54 |
42,5 |
Família |
29 |
22,8 |
Amigos |
30 |
23,6 |
Visita no local |
13 |
10,2 |
Propaganda |
01 |
0,8 |
Análise
e conclusões
A
realizar cruzamentos estatísticos da amostra, utilizando o software
SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) e analisando
os resultados apresentados, encontramos algumas dimensões melhor
avaliadas, ocasionadas por um mesmo grupo de mães.
Vejamos
primeiro os aspectos tangíveis que obtiveram a média geral avaliada
de (4,18). Esses se referem às instalações, privacidade
do local, aparência das pessoas, materiais utilizados, entre outros.
As mães com a maior idade da amostra, maior número de filhos e
maior escolaridade, indicadas para a maternidade por amigos, médicos
e família, apresentaram as menores médias na pesquisa, mesmo porque
já possuíam antes experiência com outras maternidades, trazendo
nesta bagagem um nível melhor de percepção de detalhes do ambiente
em que se encontram.
Os
aspectos tangíveis se configuram como um pano de fundo, atraindo
a clientela apenas de forma marginal; apresentam grande influência
quando não se tem conhecimento do serviço ou indícios de informação
de um serviço puro como o estudado nesta tese. Os clientes ou
futuros pacientes confiam muito nos indícios visíveis, principalmente
quando definem a empresa através de visitas ao local, como aconteceu
por uma parte das parturientes. Foi uma forma de prever como seria
o atendimento e isso implica na elevação das expectativas dessas
pacientes em relação aos serviços a serem prestados no futuro,
quando da internação.
Já
no aspecto oposto, as mães que ganhavam seu primeiro filho apresentaram
as maiores médias nos resultados. A maioria possuía escolaridade
superior e idades variadas, dentro da amostra. As indicadas para
a maternidade estudada por amigos e membros da família elas apresentaram
as maiores médias nessa dimensão. Essa dimensão apresenta também
flutuação durante os serviços quando ocorrem fatos ausentes e
desagradáveis, como por exemplo, aqueles citados nos comentários
gerais (limpeza inadequada do quarto, utilização de lençóis velhos,
aparelho ruim, falta de material, roupas de cama ruins, refeição
com aspecto ruim e frio).
Todas
essas percepções provocaram um comportamento de descontentamento,
embora fatores visuais das instalações prediais tenham impactado
de forma positiva num primeiro momento da escolha, como instalação,
arquitetura, decoração, conforto e atendentes bem apresentados.
Tais elementos deram um ar adequado a tudo isso, mas não compensaram
os resultados negativos obtidos.
Segundo
Berry (1991) quanto mais instruído o cliente, menos sensível é
para com as dimensões tangíveis. A dimensão tangível não convence
sobre o serviço de uma forma geral, diz o pesquisador, e confirmados
nesta tese, são fatores higiênicos que, presentes e adequados,
auxiliam na decisão de escolha ou compra, mas passam despercebidos
ao longo da interação clientefornecedor e dos processos
comunicacionais.
Mas
quando algo errado ocorre, aí sim, tal fator entra em ação. Nessa
dimensão a comunicação interpessoal, mesmo apresentando interesse
no comunicado, levará o receptor a tentar compreender a mensagem
a todo custo, mas as expectativas não poderão ser atendidas e
reguladas, pois passam a ser exigida mudanças de produtos, materiais
e às vezes até na estrutura dos padrões da empresa, incluindo
à limpeza, leiaute, uniformes, aparências dos funcionários, cores;
o papel da comunicação interpessoal é apenas entender a paciente
e amenizar o fato apresentado como não conforme mas ele
já ocorreu.e dificilmente a opinião será mudada.
Vejamos
os aspectos de confiabilidade que obtiveram a média geral avaliada
de (4,21). A dimensão da qualidade a confiabilidade
, ou seja, prestar o serviço prometido de modo confiável e com
precisão, é a dimensão mais importante num processo de serviço.
Percebemos durante a pesquisa de campo que o serviço médico, mesmo
satisfazendo os critérios técnicos, apresenta fortes características
de subjetividade na avaliação que o paciente faz dele. Vejamos,
por exemplo, o comentário de uma paciente: "percebo a qualidade
do médico ou atendente, pelo tempo que ele leva para me examinar".
As
expectativas e exigências dos clientes formam, desse modo, os
verdadeiros padrões de confiabilidade quando, o que está sendo
avaliado, é essencialmente um desempenho, em vez de um objeto.
Esses padrões devem ser identificados para serem revertidos em
favor dos próprios funcionários. Tal identificação necessita produzir
comunicação já que, segundo a teoria dos sistemas, só comunicação
produz comunicação. Assim, é necessário um auto-ajuste entre as
necessidades comunicadas pelas pacientes enquanto emissoras de
um conteúdo, tendo uma recepção do outro lado a receber essas
necessidades. Mas ocorre também o inverso: nesse caso o receptor
faz o papel de emissor nas promessas de serviços e o receptor
entende e gera expectativas internas. Essa relação é um continuum
nas conversas entre pacientes atendentes e sua regulagem é dinâmica
e pode variar de momento a momento.
Tal
prática comunicativa precisa, portanto, ser uma rotina desejada
e praticada pelos próprios empregados da unidade hospitalar. Por
isso, a supervisão deve encorajar tais características nos seus
subordinados e enfatizar sempre a importância da confiabilidade
nas comunicações da empresa, inclusive em relatórios e memorandos.
Na nossa pesquisa a melhor média ao item confiabilidade foi atribuída
pelas mães com ensino médio completo, a maioria tendo seu segundo
filho, idade dividida entre 20 e 39 anos e com indicação a maternidade
feita pelo médico.
Entre
as menores médias estão as mães com ensino médio incompleto, a
maioria tendo seu segundo filho, idade entre 20 e 29 anos, mais
jovens que as anteriores e com indicação à maternidade feita pelo
médico. Essa dimensão está relacionada ao grau de exigência e
solicitações de "coisas" para o atendimento de necessidades,
normalmente relacionadas à informações e explicações de procedimentos
ligados aos trabalhos de rotina realizados. Lembremo-nos a afirmação
de várias mães durante as pesquisas como: a pior coisa é ficar
aqui e não saber o que está acontecendo, as pessoas não informam;
ficamos imaginando algo ruim que está acontecendo. Essa dimensão
possui como pano de fundo a comunicação interpessoal como regulador
das promessas e limites do que temos ou não temos, do que pode
ou não pode nos serviços oferecidos pela maternidade, conseqüentemente
a percepção sobre os serviços irá ser afetada, esta dimensão que
é o resultado de todo o serviço cumprido adequadamente em todas
as etapas do processo possui uma interferência muito grande da
comunicação interpessoal formando um emaranhado de promessas muitas
cumpridas e outras não, regulando a percepção sobre a qualidade
dos serviços. Nesta dimensão a prática comunicativa é colocada
em primeiro plano para levar de forma positiva todos os benefício
e recursos disponíveis na maternidade para os pacientes.
As
outras dimensões da qualidade presteza (4,35), garantia
(4,30) e empatia (4,41), que obtiveram as melhores médias
gerais abrangem, respectivamente, a boa vontade
de servir, disposição, sinceridade. A confiança gerada pelo conhecimento
do atendente, a cortesia e explicações adequadas, consideração,
atenção e conhecer as necessidades, apresentaram as maiores médias
na totalidade da amostra obtidas pelas parturientes que ganhavam
seu primeiro filho. Essas possuíam ensino médio completo e situavam-se
nas faixas de 20 a 39 anos e indicadas pela família ou amigos
para a maternidade. Já as menores médias foram obtidas pelas mães
com ensino médio incompleto e ensino superior completo, a maioria
tendo seu segundo filho, idade entre 20 e 29 anos e indicadas
pelo médico para a maternidade. Aí as dimensões da qualidade estão
diretamente relacionadas com o saber ser, formação escolar e humana,
experiência profissional das atendentes, vontade de servir e entender
o próximo.
Na
análise dessas dimensões, como foi dito ao longo deste artigo
se observarmos atentamente os atores do processo pesquisado,
ou seja, paciente (parturiente) e atendente veremos que
ambos partilham expectativas comuns quanto ao desempenho de seus
respectivos papéis. Tais expectativas estão integradas a um sistema
de valores mais vasto, também compartilhado, e por isso, ocorre
uma evidente introjeção, quer com relação às expectativas, quer
com relação aos valores em si.
Nesse
contexto, os agentes tenderão a cooperar entre si num padrão coordenado
de atividades por três razões básicas: encontram-se comprometidos
com o curso de ação esperado ou prescrito, porque cada um de per
si o interiorizou como mais adequado ou apropriado; introjetam
outros valores relacionados, que podem ser ameaçados caso exista
uma falha em levar adiante as exigências que a situação represente;
e/ou têm receio de serem punidos por não agirem adequadamente,
frustrando expectativas ou perdendo estima, amor e aprovação.
Assim,
o receptor deve estar interessado no comunicado e tentará compreender
a mensagem a todo custo. Os participantes do ato comunicacional
formam expectativas baseadas na sua experiência pessoal e orientam-se
por elas, além do fato de que emissores escolhem suas informações
dependendo das reações que esperam do receptor. Por este raciocínio
devemos levar em conta a qualidade do canal e da mensagem que
nele trafega, avaliando o ambiente em que ocorre o evento.
Dessa
forma, mesmo o hospital não possuindo padrões de atendimento,
postula-se um teorema da ação institucionalizada, em obediência
ao qual qualquer padrão de atividade tenderá a cristalizar-se
ao longo do tempo. E ocorrerá porque qualquer tentativa de desvio
em relação às expectativas esperadas originará conseqüências desvantajosas
para todos.
É
pois, através da introjeção de valores comuns, que um sistema
de interações sociais pode ser estabilizado. Uma das faces mais
visíveis desse ponto de vista tende a enfatizar o consenso, favorecendo
a estabilidade e a durabilidade das estruturas sociais.
É
somente a partir do processo de intersubjetividade construído
e conseqüentemente vivenciado no âmbito de uma mesma pauta cultural,
que a plena realização do nós, pode, portanto, ter lugar.
A paciente não pode ter acesso a esse sistema de significação,
da mesma forma que não podem os membros do grupo profissional
dentro do qual ela se inseriu por alguns dias apenas. A parturiente
não compartilha de um passado comum com o grupo. As possibilidades
abertas para tal caminho direcionam-se para a efetivação do nós,
mas não sem riscos na comunicação e atendimento. Seus constantes
experimentos em cada contacto com os atendentes ou atores
do processo manifestam-se em novas situações de tensões.
A
comunicação, por si só ou seja, enquanto recurso de linguagem
convencional , não é uma garantia segura do normal desempenho
do sistema, conforme o entendemos neste estudo. A formação dos
média do sistema simbolicamente generalizados, além do
dinheiro, poder e da influência dos pacientes se dá por termos
presentes o amor e a verdade, já que nesse sistema de valores
deve ser incluída a presença de um novo ser que chega ao mundo.
Tais
simbolismos operam como uma espécie de substitutos da linguagem,
em perfeita solidariedade com o funcionamento dos sistemas, de
forma a garantir a sua operatividade e, ao mesmo tempo, definir
novos padrões do entendimento das expectativas e necessidades
humanas. E falar de expectativas, significa, desde logo, admitir
o caráter contingente do sucesso. Pode ser traduzido, em última
análise, como permanecer sempre em aberto, tanto à possibilidade
de aceitação, como à de recusa das mensagens, já que o processo
de comunicação preserva, até o limite, um indispensável grau de
abertura, que é simultaneamente condição do seu sucesso, mas também
a eventualidade do seu fracasso. Nestas dimensões apresentadas
o principal constructo é a função comunicativa que constrói as
relações paciente-atendente e é fortalecida pelo conhecimento
técnico que encorpa a dimensão garantia.
Em
nosso estudo, essa admissão da contingência e o grau de
abertura e tolerância encontradas nas pacientes propiciaram
resultados até que satisfatórios de percepção dos serviços prestados
e grande parte das questões foram avaliadas como dentro do esperado,
isto é, as expectativas eram as mesmas percebidas a respeito dos
serviços prestados pelo Hospital XYZ, através de seus atendentes.
Outros
pesquisadores poderão, acreditamos, dar seqüência a este trabalho,
ampliando a pesquisa para os demais hospitais e maternidades da
região. Com isto, o entendimento dos fenômenos comunicacionais
poderá proporcionar a criação de atendimentos cada vez mais integrados
às expectativas dos pacientes, trazendo benefícios de imagem e
aceitação. Assim, mais usuários procurarão esse tipo de organização,
já que, como vimos, a comunicação boca a boca para este segmento
é a principal alavanca na conquista de novos clientes que um dia
se tornarão pacientes.
Acreditamos
também estar prestando uma grande contribuição à saúde da população
e aos profissionais da saúde cujo desafio é cada vez maior, pois
não é apenas a competência técnica o indicador de sucesso profissional
e sim o saber entender e cuidar dos pacientes.
Referências
bibliográficas
BERRY, Leonard L. Serviços de
Marketing, competindo através da qualidade. São Paulo: Maltese,
1991.
CAPRARA, A; FRANCO, AL.S. A
Relação Paciente Médico: para uma humanização da prática médica.
Cadernos de Saúde Pública, SãoPaulo 15(3): p. 647-654,
1999.
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London (UK): Tavistock Institute of Human Relations, 1970.
Trad. e adaptação de Aracy Martins Rodrigues para a fundação Getúlio
Vargas, 1970.
PARASURAMAN, A.; ZEITHAML, Valarie
A.& BERRY, Leonard L. Servqual: a multiple-item scale for
measuring consumer perceptions of service quality. Journal
of Retailing, New York (EUA), 64(1), p. 12-40, spring. 1988.PERESTRELLO,
D. A Medicina da Pessoa. Rio de janeiro: Atheneu, 1982.
SILVA, M.J.P. Comunicação Tem
Remédio: A comunicação nas relações interpessoais em saúde.
São Paulo: Gente, 1996.
URDAN, André T. Qualidade de
Serviço: proposição de um modelo integrativo. 1993.
355f. Tese de Doutorado em Ciências Admnistrativas da Faculdade
de Economia e Administração da Universidade de São Paulo, São
Paulo, 1993.
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Nelson Nogueir
Doutor em Comunicação social pela UMESP.
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